O ano de 2024 continua a evidenciar uma característica histórica do brasileiro que "deu certo": a imobilização de patrimônio. Muitos brasileiros ainda preferem manter preso seu capital imobilizado em bens físicos, como imóveis (terrenos, casas e apartamentos), ao invés de optar por investimentos mais líquidos e diversificados.

O Contexto de 2024
O cenário econômico em 2024 apresenta desafios que não são desconhecidos para o brasileiro, associados a hábitos culturais de gerações criam ambiente de incertezas.
Mudanças Governamentais: O ciclo de eleições e as promessas de políticas econômicas que variam drasticamente de um governo para outro criam um medo quase irracional, mas justificado, de perder o que foi conquistado. Isso resulta em uma tendência de "congelar" o patrimônio em ativos que parecem mais seguros, como imóveis.
Planos Econômicos e Tributários: A história brasileira é marcada por planos econômicos que trouxeram surpresas indesejadas, como o confisco da poupança em 1990. Embora a economia tenha se estabilizado em muitos aspectos, o receio de que um novo plano possa impactar negativamente a vida financeira do cidadão comum ainda é forte.
Leis que Assustam a Liquidez: Em 2024, as discussões sobre novas tributações, como a possível reintrodução de impostos sobre grandes fortunas ou a revisão do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação), fazem com que os brasileiros ricos se sintam pressionados a imobilizar ainda mais seus ativos, na esperança de protegê-los contra as incertezas fiscais.
Falta de Planejamento: A cultura de evitar a discussão sobre planejamento sucessório e patrimonial continua a ser um dos maiores obstáculos para a modernização da gestão de patrimônio no Brasil. A falta de um plano claro pode levar a situações onde o patrimônio fica "preso", tornando-se difícil de acessar em momentos de necessidade.
Impacto nas Novas Gerações: Sem um planejamento adequado, as novas gerações podem herdar ativos que, embora valiosos, são difíceis de liquidar ou gerenciar, perpetuando o ciclo de imobilização e falta de flexibilidade financeira.

A Armadilha da Imobilização
Isso, no entanto, pode ser uma armadilha em tempos de crise, onde a necessidade de liquidez imediata pode ser crucial.
Veja o exemplo de um empresário que aloca 90% de seus bens em imóveis, deixando apenas uma pequena fração para aplicações financeiras líquidas e, talvez, um seguro de vida. Em situações emergenciais ou quando surgem oportunidades de investimento que requerem liquidez imediata, a capacidade desse empresário de acessar rapidamente os recursos é drasticamente limitada. A venda de um imóvel pode levar meses ou até anos, dependendo das condições do mercado, da localização do imóvel, e de outros fatores externos. Durante esse tempo, o empresário pode perder oportunidades valiosas que exigem uma resposta rápida.
Além disso, a imobilização excessiva em patrimônio pode significar a perda de oportunidades de rentabilidade mais atrativas. Investimentos em ativos líquidos, como ações, títulos de renda fixa, fundos de investimento, ou mesmo alternativas mais inovadoras como criptomoedas ou fundos imobiliários (REITs), podem oferecer retornos superiores a longo prazo. Esses ativos, além de proporcionarem uma maior flexibilidade e capacidade de diversificação, permitem ao investidor ajustar sua estratégia rapidamente em resposta às mudanças do mercado.
Outro ponto a ser levado em conta é que a imobilização pode resultar em custos adicionais com manutenção, impostos, e uma possível depreciação do ativo, especialmente em regiões onde o mercado imobiliário está saturado ou em declínio.

Portanto, ao considerar a imobilização do patrimônio, é crucial avaliar não apenas a segurança percebida, mas também o custo de oportunidade e a capacidade de reagir a eventos inesperados. Um portfólio bem diversificado, com uma combinação de ativos líquidos e investimentos de maior rentabilidade, pode oferecer uma proteção mais eficaz e uma potencial de crescimento superior ao longo do tempo.
Conclusão
O cenário de 2024 é um reflexo de décadas de incertezas e de uma cultura enraizada de desconfiança nas instituições financeiras e governamentais. Para o brasileiro que "deu certo", é essencial repensar a estratégia de imobilização do patrimônio e considerar a importância de uma gestão patrimonial mais dinâmica e adaptável. A diversificação e a liquidez são ferramentas poderosas que podem garantir não só a preservação, mas também o crescimento do patrimônio, mesmo em tempos de incerteza.
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